quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Filhos do Prgogresso


- Sabe, dessas coisas que lhe digo, já sonhei algumas vezes. Ás vezes lembro-me deles, outras esqueço logo após tê-los concebido, mas de qualquer forma, sei que sonho. Um desses sonhos me chamou atenção e, logo após acordar, forcei-me a memória a fim de guardá-lo em minha mente, pois algum dia poderia me ser útil.

Era um outro mundo. Não outro planeta, mas outro mundo,  outra sociedade, de homens é claro. Era uma civilização avançada, análoga à nossa, mas os seus costumes me eram desconhecidos e com isso, não posso dar muitas explicações acerca deles. Não sei lhe dizer se era no passado ou futuro, ou mesmo fora do tempo. Apenas Era.
Os homens trabalhavam incessantemente e, incansavelmente produziam conhecimento. Nasciam, cresciam, estudavam, aprendiam, produziam, progrediam. Tudo conduzia a uma evolução. Mas, paradoxalmente e ironicamente, ela nunca chegava. Os homens, assim como nós, matavam-se, oprimiam-se, castigavam-se. Tudo em nome da liberdade. Falavam diversas línguas, mas de alguma forma, se comunicavam com o mundo todo. Tudo era interligado, parecia uma grande rede, e de fato, chamavam-na de Rede. Diziam-se reis da criação. De um lado, produtos finais da evolução, gerados pelo acaso, mas coroados pelo inevitável. De outro, eram coroados pela predestinação, produtos de um pensar perfeito e consequências de um chamado Deus. De qualquer forma, eram juízes e carrascos. E nesse pensamento, derramavam sangue. Fico pensando, se não é isso que estamos produzindo. Se não é atrás de sangue que estamos nos agrupando. Mas devo me calar. A civilização é necessária, pelo menos, é o que nos fazem pensar. Mas ainda acho que para nos mantermos silenciados, devemos criar uma espécie de ligação. Ligação com essa força, a quem no meu sonho, chamam de deus. Talvez essa ligação criada à nossa semelhança, possa tornar as pessoas mais maleáveis. Que tal? Poderíamos chamá-la de Religião! É um nome forte e conciso! Aposto que por muitas gerações, ela se manterá de pé, apenas pelo mito que podemos criar em torno dela! E mais! Por ser flexível à suposta vontade dos homens, ela pode adquirir muitos nomes e alcançar até essa civilização avançada que fala diversas línguas! Imagine! Em cada língua, uma religião! Em cada povo, um deus! E no fim das contas, foram todos criados por nós mesmos afim de nos prendermos! Ah, esses meus sonhos! Me dão tantas inspirações!

- Porque não se cala e volta a trabalhar? A Torre não se construirá sozinha!

- A propósito, já sabem o nome que vão dá-la?

- Ouvi dizer que se chamará Babel.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O jornaleiro e o Imperador - Uma relação Homem-Deus.

Em uma certa aldeia, existia um jornaleiro. Conhecido por sua humildade e fraternidade para com o próximo, o jornaleiro vivia sua vida tranquila no campo.
Também havia naquele tempo, um poderoso Imperador. O mais poderoso que jamais existira sobre a face da Terra. Ora, o jornaleiro nunca podia imaginar o que estava para acontecer em sua pacata vida, que ele considerava, humilde.
O dia chegou. Mandaram chamar o jornaleiro em sua aldeia: o Imperador queria vê-lo. "Mas o que? O Grande Imperador sequer sabe da MINHA existência? Eu? O Humilde jornaleiro sem nome???"
Eis o que o Imperador queria: Desposar sua filha. O Jornaleiro é então convidado a ser nada mais que o genro do Imperador!
"Mas que absurdo! Eu? Genro do Imperador? Só pode ser brincadeira! Ele quer me ridicularizar perante os homens! Eu nunca aceitarei isso! O que vão pensar? Lá vai o Jornaleiro que foi enganado pelo Imperador! Não, não posso aceitar! Isso é grandioso demais para mim!"
E essas indagações tiraram o seu sono durante muito tempo. Seria verdade? Mentira? E se fosse, poderia eu me elevar a tal nível? O imperador poderia se rebaixar tanto?
Seu coração se escandalizara. Sua admiração pelo Imperador, se transformou em uma espécie de inveja. Sua humildade, que de tanto se vangloriava, na verdade, era sua vaidade. Nunca teve humildade para aceitar tão grandioso pedido de tão grandioso imperador.
Voltando-se para dentro de si, sem nenhuma coisa exterior que lhe desse a certeza de que de fato, o pedido era real, apenas por fé, teria o jornaleiro coragem o suficiente para ousar acreditar no pedido? Coragem sem humildade de nada vale, não faz crer). E essa coragem, quantos jornaleiros a teriam? Mas aquele que não a tem, escandaliza-se. Essa coisa grandiosa teria o mesmo efeito que uma grande zombaria pessoal. Vira-se para si próprio e fala: "São coisas demasiado altas para mim e que não me podem entrar na cabeça; sem rodeios, isso é loucura!"

Eis o Evangelho. E a lição que nos ensina, é que esse homem-jornaleiro está agora, perante Deus. E Este o convida a aceitar sua proposta. Terá esse homem, essa coragem revestida de humildade? Na verdade, se há no mundo coisa para enlouquecer, não será esta? Quem quer não o ousa crer, por falta de humilde coragem, escandaliza-se. Mas se se escandaliza, é porque a coisa é demasiado elevada para ele, porque não lhe pode entrar na cabeça, por isso, tem necessidade de pô-la de parte, considerá-la nada, uma loucura, uma ingenuidade, a ponto de se sentir sufocado. É constrangido pelo amor.
O que é o escândalo? A admiração infeliz, perante pois da inveja, mas uma inveja que se revolta contra si próprio, mais ainda: que se encarniça mais contra ela própria do que contra outrem. Em sua estreiteza de coração, o homem é incapaz de se conceder o extraordinário que Deus lhe destinava: por isso se escandaliza.
Esse escândalo varia segundo a paixão que o homem põe na admiração. Sem muita imaginação, o homem não tem aptidão para admirar, de modo que se limita a dizer: "Não entendo, deixo pra lá". Esses são os céticos. Mas se o homem é imaginativo, consegue admirar, e por isso, sente-se constrangido a ponto de o negar, extirpá-lo e condená-lo à lama.

A relação de homem para homem se dá como admiração-inveja, ao passo que, de homem para Deus, temos a adoração-escândalo. Advogar a loucura do Evangelho é a maior estupidez que um homem pode fazer: pois esse tipo de ralação judicial, faz desacreditar o próprio evangelho. Sendo assim, os grandes apologistas e defensores da fé, não são nada mais, do que Judas, traindo a obra de Cristo com o beijo da estupidez. A Fé não precisa de defesa, ela é o ataque: um verdadeiro crente é um vencedor, sempre. Amenizar o escândalo através de explanações teológicas é reduzir o evangelho. Assim, criamos o cristianismo.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A ideia de Deus

Penso. Fadigo-me de tanto pensar. Talvez seja reflexo da minha personalidade que, segundo Carl Gustav Jung, pode ser nominada como INFJ. Confesso, é bom se sentir entre os mais raros (apenas 1% da população). Mas a minha dádiva, às vezes, é minha maldição. Não reclamo, ao contrário, abraço-a como uma criança abraça seu pai quando chega de uma longa viagem. Amo-me a mim e a minha mente. Somos amigos íntimos. Por causa disso, vivo pensando, conjecturando, criando hipóteses, idéias, teorias sobre todas as coisas que vivo. Essa, que aqui escrevo, é apenas uma delas. É recém-nascida, talvez fruto de uma concepção gerada em mim a algum tempo, mas que eclodiu apenas ontem.
Fato que as leituras que ando fazendo me influenciam. Ainda bem, pois assim vejo que não estou morto, "Cogito ergo sum [penso, logo existo]já dizia Descartes.
Pois bem, o último livro que ando lendo é o polêmico "O Anticristo", que pra mim, nada soa com muita   novidade, pois o que Nietzsche critica basicamente em seu livro, é o que eu sempre critiquei, mas serve-me como base de argumentos futuros, o que aprendi em minha leitura.
Andei pensando sobre Deus. Sobre todos os possíveis deuses e, inclusive, o Deus que Nietzsche matou. Como sempre tento achar resposta pra tudo e um sentido que não exclua as idéias que me vem a mente, pensei em algo, que pra mim, é novo. É justamente sobre o pensar em Deus: a ideia de Deus.
Como minha formação sempre foi cristã, baseio-me na bíblia para argumentar e formar minhas idéias (sei que isso pode ser arbitrário e condicionar meu pensamento). Mas não leio e penso na bíblia como um manual. Antes de mais nada, tento ler e entender as passagens ali descritas, de uma forma filológica:  Analiso não só o contexto histórico-social da coisa, mas a psicologia de quem escreve. Isso, pra mim, revela coisas interessantíssimas que podem estar ocultas aos olhos dos leitores comuns. Como por exemplo, a história do Éden.
Toda a bíblia poderia perecer, exceto os capítulos iniciais de Gênesis, Eclesiastes e o sermão da montanha. Todo o resto pode ser enfeites de uma ideia central, contida, especificamente, nesses livros.
Essas foram as perguntas que me surgiram ontem: Por que está relatado (por Moisés) que Deus criou o homem a sua imagem? Por que, Deus tinha um relacionamento livre com o homem antes da "queda" que não pudesse tê-lo posteriormente, apenas perdoando o homem? Por que só um povo escolhido? Por que leis? Essas primeiras, tendo em vista apenas o gênesis. Agora, por que tudo é vaidade? Por que não há nada de novo debaixo do céu? Já afirmava Salomão. E agora, vem Jesus: Por que e para que o Reino está em nós, a partir da pessoa do Cristo? Por que o pecado não tem mais lugar em nossa vida, a partir do momento em que entendemos a boa nova? Por que Paulo quis reintroduzir na mente da igreja primitiva, o conceito de culpa e castigo?
Todas essas peguntas me tem assolado nos últimos meses. Ontem cheguei a um pensamento derradeiro, divisor de águas. E tudo se responde, se respondemos a essa ultima pergunta: Quem É Deus pra nós e como o conhecemos?

Tudo me remete ao Jardim. Ao começo de tudo. E, obviamente, não leio aquela fábula de forma literal (não descartando a possibilidade de ser, nunca!).

O Homem. Criado a imagem e semelhança do próprio Deus. Quem nos diz isso é Moisés, que não conheceu a Deus tal como Ele é. Ora, se ele não sabe como Ele é, como pode nos dizer que somos a imagem e semelhança dEle? Não me venham com a balela da "Inspiração Divina". Inspiração não é fato, é ideia, e como tal, pode ser questionada, assim como tudo o que existe. Uma resposta que encontro é essa: A ordem dos fatores está invertida, o que não altera o resultado, mas altera os "porquês". Imaginem um feto, sem consciência de si, apenas barro. Vem Deus e o gera, a partir de sua mãe. O que passa na cabeça desse novo ser? Será que passa o pensamento de quem ele é e para o que serve? Bem improvável. Assim o era, o homem, em um tempo não definido, talvez até mesmo fora do "tempo". Se relacionava de maneira franca e direta com Deus, que diga-se de passagem, não tem uma "forma". Ora, se a única coisa que o homem, já com consciência de si, sabia que era existente e que pensava era ele próprio, qual a única forma de pensar Deus que ele tinha? Isso, ele mesmo. Ou seja, Deus vinha ao paraíso em "forma humana" ou melhor, em "contato direto" para se relacionar com o homem. A chave da questão é essa: relacionamento. Contrariando toda a idéia de um "Deus Todo-poderoso que não abre mão de seu poder", Deus se relacionava com o homem de forma direta, de acordo com a mente desse homem. Era um relacionamento de puro amor, de homem para Deus, na forma de homem-para-homem. "Não é bom que o homem viva só" já decretava Deus, o destino do homem: a partir de um relacionamento real homem-homem viria a "descobrir" a moral. Com a convivência, o homem evolui e passa a ter um "pré-pensamento". Nesse momento, o homem não tem "vergonha" de Deus, nem o vê como algo mal, está isento de vaidades. Mas o homem resolve descobrir o mal (e o bem). Daí a partir da convivência com o outro, no caso a mulher, o homem não descobre a moral, ele a CRIA. O Homem cria o bem e o mal, ou pelo menos a consciência dele. A partir desse momento, vê que existe, ou pode existir, vida lá fora. E assim, reinventa a ideia de Deus. O Homem a partir de então, vê Deus como seu carrasco, se vê como fruto de uma experiência e tem medo. Vergonha é a palavra usada pra caracterizar o que se sucedeu em seu coração, mas pode-se entender como medo. Medo de Deus. Nesse mesmo momento, ele também cria junto a ideia de mal, o adversário, que nada mais é, que um estado de sua consciência, voltado para a parte "má" de sua moral.
Não descarto a existência dos dois, Deus e Diabo. Apenas digo sobre a ideia acerca deles que o homem constrói em sua mente.
Como Deus se relaciona com o homem, a partir da visão deste, Deus agora, de fato, se torna seu carrasco, e a consciência má da moral, sua acusadora. Daí o homem sempre tentando fugir dessa consciência e demonizando-a, para não se sentir culpado diante de seu Juiz. A partir dessa ideia, explica-se todo o conceito judaico-cristão acerca de Deus e, não exclui as outras culturas (de certa forma, um "fator Melquisedeque").
E assim, o homem se relacionou com seu Deus, criado (não literalmente, mas na ideia) a sua imagem e semelhança.
Acerca disso, Moisés registrou, não os fatos, mas os conceitos. E essa história parece-me se repetir em cada novo homem que nasce. Daí a ideia de que "todos pecaram", porque todos adquirem essa consciência de Deus a partir do meio em que vive.

Cristo. Novidade, Evangelho. Ensinou que o "Reino está em nós" ou seja, que a ideia de Deus, quem constrói somos nós. Não existe, literalmente, pecado. Pelo menos não para os que adquiriram a consciência de Cristo. Por que? Muito simples, porque entendemos que a moral é fruto da suposta "sabedoria humana". Porque o mal é, de fato, inventado pelo homem e, a partir daí não mais fazemos o mal, porque sabemos que nós o inventamos. Para essa "nova criatura" não existe culpa, antes, foi remido em sua consciência, pela vida e ensinamentos de Cristo. A Grande questão não está na morte desse, e sim na vida. Um evangelho que valoriza mais a morte que a vida, não é evangelho. Infelizmente poucos o entenderam, e ainda sim, deturparam sua mensagem, criando regras e "doutrinas" para uma vida de sacrilégios e uma suposta "santidade".
Com Cristo, voltamos a "inocência" se é que podemos chamá-la assim, do relacionamento que o homem tinha com Deus. Este agora abita através de seu Espírito, em nós, no próprio homem, não sendo mais necessário, um relacionamento inventado, ou face-a-face. Basta apenas olharmos para nós mesmos. Posteriormente, esse relacionamento interiorizador, se reflete no relacionamento homem-homem, que agora, é movido pelo amor, e não pela culpa. É a ideia por trás dos únicos dois "mandamentos" deixados por Cristo: 1. Amarás a teu Deus sobre todas as coisas e 2. Semelhante a este, amarás a teu próximo como a ti mesmo (porque ele também "carrega" Deus dentro de si).

O que a igreja fez? deturpou Cristo. Inventou um "Salvador", "Redentor", "Segunda pessoa da trindade". Quando ela fez isso? Com os primeiros apóstolos, que não entenderam a mensagem de Cristo, antes preferiram a mensagem martirizadora da cruz à vida esclarecedora do Cristo. Voltou-se ao tempo ANTES de Cristo, logo APÓS sua morte.

Em outras culturas e religiões, se vê uma consciência, de certa forma, parecida, principalmente no Budismo, que diga-se de passagem, é mil vezes mais realista e sincero que o nosso atual cristianismo e por que não dizer, mais evoluído.

A Vaidade do homem encarcerou novamente o espírito livre e multiforme de Deus. A isso, denominamos "Graça". E a fé, que originalmente seria essa consciência livre de convicções, passou a ser o instrumento humano de escravização divina. Junta-se a esperança do nada com o amor a coisa nenhuma, e temos, novamente, uma religião pagã, fundada pelos "seguidores" de Cristo.

Não afirmo nada disso que escrevi como verdade absoluta, pois se assim o fizesse, estaria criando outra religião. Apenas quero transmitir ideias, que felizmente, é a única forma de pensar que não pode ser provada, pois é apenas ideia.




nEle, que supera toda a ideia que possamos ter acerca dEle próprio.

Lucas Vizani.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Parábolas reeditadas - O Semeador

Tento nesse espaço apresentar uma visão um pouco distorcida das parábolas contidas na bíblia. Distorções causadas pelo nosso "evangelho" moderno, que mesmo sem ter mudado as palavras do texto, tem mudado seu sentido prático. Convido ao leitor a avaliar comigo se, o que apresento a seguir, não é o que temos visto na realidade.


A Parábola do semeador
(reinventada pela "igreja")

3. E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que um semeador, e nada mais, saiu a semear.
4. E, quando semeava, que era só o que sabia fazer, uma parte da semente caiu ao pé do caminho por causa do seu descuido, e vieram as aves, e comeram-na;
5. E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda, nem quem se importasse com isso;
6. Mas, vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz.
7. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na.
8. Quando por fim, encontrou terra boa, semeou com alegria e júbilo, se esquecendo dos outros terrenos que deixara cair a semente sem se preocupar. Ora, essa terra era boa e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta.
9. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Quem tem língua para falar, fale mais do que ouça.
[...]
18. Escutai vós, pois, a parábola do semeador.
19. Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a entendendo, porque ninguém teve a paciência de lhe explicar, vem o maligno até mesmo na forma de "cristão", e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho.
20. O que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria;
Mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição, por causa da palavra, logo se ofende; Porque o semeador, que não era lavrador, não se importou em lhe dizer o que a Palavra realmente significa, antes, não se importando com ele (porque era um terreno ruim), deu de ombros e seguiu seu caminho. 
21. E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas, promessas e "profecias" sufocam a palavra, e fica infrutífera;
22. Mas, o que foi semeado em boa terra é o que teve a sorte de contar com a simpatia do semeador e, tendo quem o amasse, ouve e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta, que serão desperdiçados novamente por mais um semeador preguiçoso. 

Mateus 13:3-23

terça-feira, 24 de julho de 2012

Um pouco de Pensamento Científico


DEUS TEM RAIVA DE QUEM GOSTA DE SABER?


Hoje escrevi que as Religiões de Deuses pessoais tendem a se tornar fundamentalistas e anti-cientificas; e que, além disso, a visão em um Deus pessoal e Redentorista, tornava a pregação de Salvação por Dogma, um poder inevitavelmente obscurantista e anti-cientifico em tudo; tanto mais quanto "santificado do mundo" seja o grupo em tudo; inclusive na indisposição de aprender qualquer coisa fora da "Escola Bíblica Dominical". Rsrsrs.

O fenômeno entre os Islâmicos é diferente na viagem que os levou até onde estão em termos de luta contra o saber cientifico, em face do fundamentalismo, mas o resultado é muito semelhante ao que acontece à "igreja" e aos "cristãos" de hoje em relação ao mesmo tema. Por outro lado disse que desde o início do Século XX, tanto os Budistas, quanto os Taoistas e os Hindus em geral, do ponto de vista religioso, têm feito grandes avanços no dialogo tranquilo com o mundo cientifico, em razão de muitas coisas, porém, também muito em razão da Impessoalidade da Idéia de Deus que possuem.

Ora, isto dá a eles sistemas de crenças sem Dogmas de fé anti-cientificos, e, assim, por conseqüência, abertos ao saber sem culpa e sem medo de qualquer que seja ou fosse o ciúme de Deus; posto que Deus, para eles, por definição, não seja ciumento, visto que muitas vezes nem mesmo Pessoal seja.

Alguém pergunta:

Então, o fato de Deus dizer "Eu Sou" é incompatível com uma mente aberta?

Creio que você saiba que direi que é Óbvio Que Não. Na realidade a questão nada tem a ver com o Deus Pessoal; ou seja: com o Deus que diz "Eu Sou"; mas sim com a "idéia acerca do Deus pessoal"; e, além disso, depende também da idéia que se tenha de "pessoalidade em Deus".

Ora, de fato, "o Deus Pessoal" dos cristãos, não passa de um "Deus Passional", não Pessoal.

Ele não é amor, Ele é ciúme!

Além disso, "o Deus Pessoal" dos cristãos é feito à "imagem e semelhança" dos "cristãos" ou da "igreja".

O "Deus Pessoal" dos cristãos é passional, ciumento, mesquinho, invejoso, preconceituoso, inimigo de toda inteligência, de toda alegria de descobrir, de toda vontade de entender, de todo milagre passível de explicação, de todo saber que cure hoje aquilo que um dia se dizia que "somente Deus" curava.

O "Deus Pessoal" dos cristãos é como um grileiro de terras ou é como um Latifundiário que não usa a terra e tem raiva de quem deseje conhece-la ou tratar bem dela.

Assim, "o Deus Pessoal" dos cristãos não é uma Pessoa, é um Espasmo Passional e Todo Caprichosamente Poderoso.

De modo que "o Deus Pessoal" dos cristãos não está aberto a mais nada além do que os Teólogos de algum tempo Constantiniano tenham dito sobre "Deus", sobre a "Natureza" e sobre o "Universo".

Portanto, "o Deus Pessoal" dos cristãos teria fechado não apenas o "Cânon Sagrado", mas também o "Cânon Cientifico"; ou seja: o Cânon Natural.

Entretanto, isto nada tem a ver com a Pessoa de Deus, que, vai muito bem, obrigado. Graças a Jesus!

A Pessoalidade em Deus é como a pessoalidade em Jesus; ou seja: sempre dizendo até do desejo de executá-Lo: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!"

Assim, o Deus Pessoa, que é amor, sendo Ele como Jesus disse que Ele era; ou seja: a cara de Jesus — quando vê disparates na Ciência dos Homens, diz: "Eu perdôo a todos vocês, porque vocês ainda não sabem o que dizem saber".

O que diria Deus?...

Muitas vezes, ao ver um Centurião Cientista [um "Cienturiontista"] descobrir, pela perseverança, e, muitas vezes, pela experiência da intuição projetada [como Einstein chamava ao que a ele acontecia, mas que, em termos bíblicos, chamaríamos de revelação, conforme a medida da hora do saber] — algo lindo de Sua criação, creio que Deus em Cristo diga: "Nunca vi entre os que dizem que 'Eu Sou'..., uma disposição de buscar a verdade como esta".

Se não fossemos apenas gente programada pelo pânico instaurado pela religião dos Deuses passionais, o que teríamos era que os seres com maior motivação para amar a Deus também com a mente, seriam os que dizem que "os céus proclamam a glória de Deus"; e mais: que dizem que "o que de Deus se pode conhecer, está por Ele mesmo manifestado por meio das coisas criadas".

Do mesmo modo, ninguém defenderia mais a criação do que os que dizem que o Criador é Amor; e que hoje também dizem que, pela miséria humana, a Criação geme a uma, esperando chegar o Dia da nossa e da redenção também dela.

Mas... é o Dalai Lama, que disse que o Budismo está aberto para aprender com toda ciência que se comprove verdadeira, o líder religioso que hoje mais trabalha junto aos neurocientistas, em profundas pesquisas entre os conceitos budistas de expansão da mente e as novas descobertas acerca da maleabilidade do cérebro, sendo alterável pela disciplina dos estímulos de bons pensamentos.

Os cristãos achariam que estariam pecando contra Deus por tão somente estarem desejosos de trocar experiências e considerar observações que podem ser úteis a muitas percepções da própria interpretação bíblica e na compreensão desta existência.

Este tempo é, por exemplo, fascinante para um cristão que, estudando Física Quântica, saiba ver o quão quase dentro do ambiente da dimensão espiritual ela projeta a mente em sua melhor chance de discernir o fenômeno das coisas invisíveis do ponto de vista de uma observação de natureza experimental e impírica.

Mais que isto:

As descobertas da Física Quântica mostram como se tornaram tolas as questões sobre Predestinação ou Onisciência de Deus.

A própria noção de tempo/espaço e Singularidade com sendo o Indiscernível — não estão disponíveis como verificação observável fora do ambiente da Ciência Física.

E mais: tais conceitos são tão mais compreensíveis nas suas explicações, bem mais próximas do real sentido bíblico de eternidade [ou: do que “é”], do que a teologia jamais conseguiu propor.

Digo isto por as pessoas ainda pensam em tempo e espaço e eternidade com as categorias do velho mundo grego e linear.

Portanto, melhor do que uma tola aula sobre Predestinação Linear de Deus no Tempo/Espaço, ou em uma Eternidade também Linear, é uma boa aula sobre Tempo, Não-Tempo e sobre a possibilidade da existência de múltiplas camadas dimensionais na existência, com a chance de que o que chamamos de mundo invisível seja apenas o que os Físicos começam a chamar de Universos Paralelos.

E, assim, em uma quantidade absurda de campos de saber e de entendimento, abrem-se avenidas devocionais para quem pode descobrir sem arrogância, mas apenas com adoração; o que pode ser o caminho de todo aquele que ao descobrir não pense que suscitou raiva em Deus.

Afinal, a denuncia bíblica não é contra o saber, mas sim acerca do saber sem amor, sem adoração e sem alegria grata na descoberta.

Mas que homem de ciência descobrirá com amor, adoração e alegria na descoberta se, para ele, o Criador está com raiva, inveja e ciúme?

Por hoje eu fico por aqui.



Caio Fábio, em: 
http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=04422

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sobre a Eterna Busca

Nunca  clamou-se tanto por um retorno aos valores cristãos. Nunca homens que se dizem apartidários, ateus ou agnósticos, anarquistas e revolucionários, buscaram com tanta veemência valores provenientes de um princípio que eles mesmos condenam quanto nos dias de hoje.
É bem verdade que sempre existiram "profetas", até mesmo no nosso "tempo da graça", que tentaram nos alertar do perigo da religião. A esses, o meu profundo e sincero respeito. Mas hoje, especialmente, vemos os que deveriam ser os profetas, calados e as "pedras", tagarelas.
Enquanto batalhamos por igrejas enormes e cheias, por cargos eclesiásticos (e impressionantemente, políticos também), por congressos de avivamento, por missões utópicas de desencargo de consciência, por campanhas de buscas do interesse próprio (Casa, carro, saúde, dinheiro, causa na justiça e etc.), enquanto nos preocupamos com coisas fúteis e tolas, alguns abrem mão de seu conforto e sua integridade para lutar por uma sociedade mais justa, mais cristã. Quem são esses? Geralmente são conhecidos por rebeldes, marginais, exemplos a não serem seguidos.
Tanto pessoas que se dizem cristãs e não-cristãs, receberam pelo menos a consciência do erro através de Cristo. O que as difere é justamente assimilar essa consciência e transformá-la em práxis, em caráter ou deixá-la morrer (de fome).
E o que temos visto? uma total inversão dos papéis. Muitos do que se dizem não-cristãos exercendo valores cristãos e muitos do que se dizem cristãos exercendo valores não-cristãos. A esses, resta a resposta de Cristo no Grande Dia: "Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade." Aos primeiros, resta o que sucedeu a Saulo: ter suas escamas caídas e ver que sua intenção (de fazer o bem) é justamente o que Deus, em Cristo (que tanto desprezam) quer.
Enquanto se proclama os valores de Cristo nas ruas, nos becos, nos hospitais, nas margens desse grande rio que se chama História, a velha aliança consumada com a árvore do conhecimento do bem e do mal continua atuando com sagacidade e perspicácia de uma raposa.
Tanto religiosos e científicos se amordaçam na eterna luta por suas convicções. Não percebem que seus métodos são, ambos, dois lados de uma mesma moeda. Moeda que fora lançada à sorte da História da Humanidade desde o começo dos tempos.
O método científico, assim como o religioso, está fadado ao fracasso. Está contaminado com a iniquidade e ambos perecerão. A eterna e constante briga "Fé X Razão" não encontra lugar no Reino de Deus. Esse Reino é Reino de Amor que lança fora todo tipo de discórdia, é incondicional.
Que possamos achar em Cristo o que tanto ansiamos: a água da Vida. Água proveniente única e exclusivamente, do Amor. Quem dela beber, jamais terá sede.
Quando conhecemos e reconhecemos esse Amor, nada mais importa. Nossa sede de se fazer justiça nesse mundo já não mais encontra lugar em nossa alma. Nossa eterna busca por conhecimento ou por milagres, por descobertas ou testemunhos, por cargos políticos ou eclesiásticos, por pão ou água, já não existe mais. Pois "as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo!".

Em Cristo, o Evangelho,
Lucas.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Dizer Deus é amor

Faz-se malabarismo com o texto bíblico. Usam-se versículos para tudo. Capítulos servem, ao mesmo tempo, para abençoar a guerra e semear a paz. Nada como um texto canônico para validar mecanismos opressores que perpetuam a pobreza. Como a sagrada Escritura já serviu  para acalmar a revolta dos excluídos!

Um dos textos mais usados, celebrados e repetidos da Bíblia é o capitulo 13 da primeira epístola aos Corintios. Talvez tão celebrado por tratar do amor. Declamado em casamentos. Musicado por diferentes artistas. Seus 13 versículos valem até como cartilha de auto ajuda: “Como aprender a amar bem”.

Geralmente, os três primeiros versículos servem para explicar que amor é mais nobre que dogma, carisma e desempenho religioso:

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá”.

A partir do versículo 4, Paulo descreve alguns atributos do amor. Sua descrição é nobre:
“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

Belíssimo! repetem até os não religiosos. Acontece que a lista não é receita. Deus é descrito como essencialmente amor. Sendo assim falar de amor é também falar de Deus.

É possível projetar  o pensamento de Paulo sobre o amor na percepção de quem Deus é. Se Deus é amor e o amor tudo sofre – Deus sofre. Se Deus é amor e o amor tudo crê – a existência humana é fruto de um acreditar divino. Se Deus é amor e o amor tudo espera – Deus então espera, aguarda, pacientemente por respostas humanas. Se Deus é amor e o amor tudo suporta – o sofrimento que se universalizou produz uma dor incalculável no coração de Deus.

Infelizmente a cristandade ocidental preferiu compreender Deus a partir da onipotência. Caso tivesse prestado mais atenção ao que a revelação do amor indica, com certeza haveria menos ateus no mundo.
Nunca é preciso hesitar: o amor é simultaneamente frágil e avassalador. Jesus chorou sobre a impenitente Jerusalém.Lamentou a partida de um jovem rico. E contou uma parábola usando a figura de um pai abandonado pelo filho para revelar os sentimentos divinos. O amor que vulnerabiliza também salva.

O que é atrativo em Cristo? Que não sejam as descrições de sua majestade, mas de sua humildade. Sua glória foi revelada na cruz em não em tronos; no perdão e não em vingança.  O texto diz peremptoriamente que o Pai lhe deu um nome que está acima de todos os nomes porque jamais cobiçou poder, mas viveu para servir. Depois de ressuscitado Jesus não procurou esmagar seus algozes. Para sempre se manteve como cordeiro.

O Deus encarnado expressou, com mansidão e humildade, que não há outra maneira de perceber Deus senão na ternura e na mansidão.

Qualquer deus que tente se impor através do poder ou com apelos mágicos não passa de um ídolo.

“Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele… No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo“. [1João 16-18]

Soli Deo Gloria

Ricardo Gondim

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Pescador

Conta-se que existia um grande rio mágico. Esse rio era forte e caudaloso. Quem o adentrava era levado por suas águas e se transformava em peixe. Muitos tentaram navegar por suas águas, mas os barcos nunca aguentaram e sempre sucumbiram à força do grande rio.
Ora, nesse rio existiam dois tipos de peixes, os vermelhos e os azuis. Eles se detestavam e viviam brigando e se matando. Os vermelhos chamavam os azuis de mundo. Por sua vez, os azuis chamavam os vermelhos de igreja.
Conta-se também que surgiu um certo homem, em uma certa época, que vivia a beira do rio. Esse homem se dizia pescador e, quando disse que ia pescar pela primeira vez os peixes do Grande Rio, não acreditaram em suas palavras. Ora, esse Homem era o mais sábio dos homens e tinha uma certa magia que o envolvia (pelo menos era assim que pensavam).
O Homem, sabendo de tudo o que acontecia naquele rio, foi para lá pescar. Mas não usou barco, sentou à margem do rio e pescou alguns peixes, tanto vermelhos quanto azuis. Ao terminar, olhou para os peixes, ainda vivos, e suspirou. Aqueles peixes voltaram a ser homens com o suspiro do Pescador.
Ao passo que Ele lhes disse: Agora, farei de vós também pescadores de homens!
Desde então, o legado do Pescador continua até os dias de hoje, e Ele está a procura de novos pescadores, que uma vez sendo peixes, entendam o milagre da transformação.

Em Cristo, o Pescador
Lucas.

terça-feira, 3 de julho de 2012

As pedras clamariam

Tentarei com esse post apresentar uma visão sobre essa profecia de Jesus. Uma possível interpretação a qual cheguei nessas últimas semanas e que se encaixa no mundo atual e na forma como vivemos. Interpretação essa, baseada em conclusões que li em um livro de Liev Tolstói, "O Reino de Deus está em vós". Me basearei muito nesse livro para escrever aqui nesse blog.


"Alguns dos fariseus que estavam no meio da multidão disseram a Jesus: "Mestre, repreende os teus discípulos!
"Eu lhes digo", respondeu ele, "se eles se calarem, as pedras clamarão". Lc 19:39,40

Alguns dizem que hoje em dia as pedras estão clamando. Homens que nunca ouviram sobre o Reino, nem conhecem a doutrina de Cristo, clamam por justiça e paz. Chamam-os de "pedras", pois seus corações (não cristãos) são como pedra, e mesmo assim, até eles clamam pelo Reino!
Já ouvi e até compartilhei deste mesmo pensamento, mas ultimamente tenho visto de uma forma um pouco diferente essa tão profunda profecia dita por Cristo.
Para compreendermos o que o Mestre quis dizer, temos que entender o que se passou na humanidade depois de Sua obra ter sido consumada. Muitos pensam que a obra de Cristo só passa a valer e a ter sentido na práxis humana, a partir do momento em que "aceitamos" a Ele. Mentira. O sacrifício de Cristo foi, e continua sendo, muito mais abrangente do que isso. Suas consequências não se restringem a vida de uma pessoa que se diz Cristã. Sua vida e morte trouxe, muito além do que imaginamos, uma nova forma de encarar a vida para toda a humanidade.
Para chegarmos a essa conclusão, basta olharmos para a história humana desde o seu primórdio e compararmos a mentalidade de cada época vivida pelos homens.
Segundo Tolstói, a história da humanidade pode ser comparada a história de um indivíduo. Uma pessoa passa por várias épocas da vida, infância, juventude, velhice... Assim o é também com a humanidade.
Podemos classificar e entender a primeira época da vida humana, como sendo uma vida primitiva, individualista. Nessa época, o homem vivia apenas para si mesmo, sua felicidade se baseava em satisfazer seus desejos. É a primeira forma de encarar a vida que o homem descobriu.
Após essa época, teve início a segunda fase, a da comunhão. Nessa fase, o homem descobre que não basta apenas viver para si mesmo, mas para o próximo também. A sua felicidade consiste em abrir mão de seus desejos para se ter o bem comum entre os seus. Sendo assim, primeiro o homem define sua família, depois seu clã, sua tribo, sua cidade e por fim, o Estado. A cada novo passo que o homem deu, foi ficando mais difícil de abrir mão do passo anterior. Podemos ver isso na prática: É muito mais fácil um homem abrir mão de seus desejos pela sua família do que pela sua cidade, por exemplo. A cada novo estágio, é requerido mais esforço do homem para garantir sua felicidade. Essa foi a segunda época da vida humana.
Com Cristo, deu-se início a uma nova época, a época Cristã, e é nela que vivemos hoje em dia.
Com essas informações, podemos analisar o comportamento e a mente humana ao longo do tempo.
A cada nova transição de mentalidade, de uma época para outra, o homem sofre. Demora-se muitos séculos para que a nova concepção de vida possa ser assimilada por nós. O homem primitivo não queria abrir mão de si próprio pelo outro mas, ao mesmo tempo, sua consciência, a partir do momento em que atravessou de uma fase a outra, clamava por isso. A partir daí, ele vivia em um constante paradoxo, e isso o fazia sofrer.
Com o crescimento da organização social dos homens, foi sendo necessário criar artifícios que ajudassem e forçassem os homens a aceitar o novo conceito de vida. O maior desses artifícios foi a religião. Criada para explicar o inexplicável e mistificar um fenômeno natural, a religião foi responsável por elevar o pensamento humano na antiguidade e foi necessária naquela época, pois o novo conceito social de vida pedia que assim fosse.
Cristo nasceu. Com a promessa de uma renovação de vida e da instituição do verdadeiro Reino de Deus, Ele veio à Terra. Deu-se início a nova fase do conceito de vida humano o conceito Cristão. Nesse conceito, mais elevado que todos os seus predecessores, a vida humana não mais deve obedecer aos instintos e desejos, nem mais a família, nem ao clã e nem ao Estado, a Lei única que rege a vida do Cristão, é a Lei de Deus, explicada por Jesus como sendo a Lei do Amor (porque Deus É Amor).
"Amarás a Deus sobre todas as coisas e a teu próximo como a ti mesmo". Essa é a síntese da Lei do Amor. Contra ela, não existe lei humana que possa se sobrepor ou superar. A partir daí, o homem não vive mais para si mesmo nem para suas organizações sociais, ele vive para Deus e para o Amor. Amor esse, que supera todas as coisas. Esse novo conceito foi impresso no coração e na mente da humanidade por Cristo, e nós, todos nós, clamamos por isso.Mas como disse antes, passar de uma fase a outra, é sofrimento e demorado. A religião que antes era necessária para a humanidade, não mais o é, porque Cristo nos deu sua Lei, e é por ela que devemos viver, e não pelas leis de um clero, ou grupo de pessoas que se autodenominam "enviados de Deus". Ele próprio nos deu sua Palavra.
Logo após a ressurreição de Cristo, os seus discípulos entenderam que se fazia necessário, atravessar essa nova fase. E para isso, Ele os disse: "Pregai o Evangelho (que significa: Boas Novas, ou Novidade) a toda criatura!" E isso foi feito.
Até determinado momento, o Reino estava sendo pregado, apesar das desavenças surgidas já na igreja primitiva. Mas os homens que não desejavam abraçar e a viver o novo conceito de vida, transformaram a obra dos primeiros Cristãos, em uma religião. Passaram a chamá-la Cristianismo e a confiná-la em um nome exportado dos próprios escritos de Lucas em Atos: Igreja.
Tentamos pegar o Evangelho, novidade de vida, e trazê-lo para o conceito antigo de vida. Teria sido um sucesso, se não fosse o que Cristo disse: "se eles se calarem, as pedras clamarão". A nova/antiga Igreja, já não era mais Cristã. Ela voltou-se aos princípios pagãos, anteriores a Cristo. Mas os verdadeiros cristãos, aqueles que entenderam a obra de Cristo, não se calaram e continuaram a proclamar o Reino. Esses foram chamados de Hereges e sofreram o martírio, tanto por parte da igreja católica quanto pela protestante e pela ortodoxa. Mas nunca fez-se necessário que pedras clamassem. A própria consciência humana clama. E hoje, nós vivemos no mesmo paradoxo que vivia o homem antigo: Sabemos o que é certo, mas fazemos o errado.
Sabemos que a Paz é a solução e que a guerra só gera guerra. Mas continuamos a fazer Guerra em noma da Paz. Sabemos que para nós, não há Lei, senão a Lei do Amor, e continuamos a obedecer o Estado (Suportado pelas Igrejas / Religiões) que só nos escraviza. Nossa alma (a de toda a humanidade) clama pelo Evangelho, e não as pedras.
Mas os homens que não conhecem ao verdadeiro Cristo, continuam buscando a solução desse paradoxo em outros lugares. Sabem que a atual ordem das coisas não leva em nada, e estão procurando elevar ainda mais o conceito social de vida, afim de que cessem as guerras e cheguemos a paz. Querem elevar o conceito de obediência ao Estado, a obediência à humanidade. Um governo soberano e humano que a todos governe. E isso foi profetizado várias vezes, principalmente em Apocalipse e vemos se cumprir em nossos dias. Esse governo, será suportado pelas igrejas e religiões. Eis a Prostituta do Apocalipse. Mas a noiva, a verdadeira, nunca será manchada.
Nós, conhecedores da Verdade, sabemos que nada adianta elevar o conceito social, porque as coisas velhas já passaram e eis que TUDO se fez novo.
Que possamos proclamar o Reino e o Evangelho de Cristo. Nós temos a solução para o paradoxo da consciência humana. E que Deus seja conosco.

Em Cristo,

Lucas.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O porque deste blog

Tento reiniciar a partir desse pequeno espaço na internet, algo que me tem incomodado a vários anos. Para minha alegria e satisfação, nos últimos tempos (coisa de uns 2 anos pra cá) tenho conhecido pessoas que partilham de sentimentos parecidos com os meus, e isso me aliviou bastante o coração.
Essas pessoas, que já posso chamar de amigos, me tem feito acreditar que ainda pode existir uma esperança para os nossos tempos e que a cana trilhada ainda não foi quebrada e, provavelmente, nunca será. Foi com esse sentimento em comum, que decidimos que temos que fazer alguma coisa, que por nos ter sido dada uma certa clarividência das coisas e um discernimento elevado, é nossa responsabilidade denunciar os males de nosso tempo e proclamar o verdadeiro Reino que, por muitos que se dizem filhos de Deus, foi esquecido.
A partir disso, quero fazer dois convites a todos que por aqui passarem, ou tiverem contato conosco.
A princípio, o título desse blog pode incomodar e gerar certa repulsa, mas como primeiro convite, quero chamar a todos que sentirem necessidade de ouvir e ler sobre o Reino instituído por Cristo, a se abster do preconceito que circunda a palavra "Herege", e abrir a mente para aceitação de novas idéias que, por mais incríveis e inovadoras que pareçam, foram passadas a nós, a quase 2000 anos.
Tentarei postar com frequência, reflexões e discussões tidas em encontros com pessoas dispostas a aprender mais sobre o Cristo que nos salvou da eterna ignorância e escravidão desse mundo e/ou lidas ou entendidas em outros lugares.
O segundo convite, é para todos aqueles que quiserem compartilhar informações e discussões sobre questões do verdadeiro Cristianismo, que não somente envolve "coisas de igreja", mas sim, toda a vida humana. A essas pessoas (e espero que você que está lendo isso possa ser uma delas), peço-lhes que entrem em contato comigo ou com qualquer um de nós, seja por facebook, twitter, e-mail, carta, sinal de fumaça, telefone, recados pessoais, etc.
Nossa intenção não é se rebelar contra qualquer instituição ou querer convencer de que deva-se negar a igreja (até porque, eu tenho parte na igreja a qual sou membro e todas as outras que visito). Apenas queremos pregar a Jesus, o Cristo e somente a Ele, nos abstendo de idéias pagãs que foram incutidas nos pilares das igrejas desde o começo de sua fundação pelos primeiros cristãos. Esperamos que com isso, possamos dar início a um verdadeiro Avivamento, de que tanto clamamos e precisamos nesses últimos tempos.


obs. Escolhi a palavra Herege. por causa dos mártires que sempre proclamaram o Reino. Esses, que sempre foram chamados de Hereges, tanto pelos Judeus na época de Jesus e dos apóstolos, quanto pela Igreja Católica e Protestante em suas respectivas inquisições. Por mais que pareça absurdo, esses ainda existem em nosso tempo.

Venham Todos!


Meninos e meninas, Venham ver!
O que não tarda a acontecer!
A vida bem servida hão de ter
Que de ontem surgirá
O amanhã que não viria

Venham, venham todos!
Experimentem essa dança
Empanturrem-se as panças
Sejam gordos, sejam magros
Todos famintos de afagos

Há comida para todos
Que desejam somente pão!
Nova Água terão,
Que sede não mais sentirão!

Convidem a quem quiser vir
Ricos, pobres, até mendigos hão de ter
O melhor dessa casa:
Que é de graça receber!

Feixe de Luz


Volto pra casa na montanha. Estou cansado da subida, meus pés latejam de dor. O suor desce as minhas costas e molham a mochila pela parte de trás. Há quem pense que a subida não é tão difícil assim. Mas cada um tem uma perspectiva diferente sobre isso, e a minha, é que uma trilha dessas, não se sobe tranquilamente. Talvez pelo fato de que a cada passo, a mochila aumenta e o peso transporta a minha mente a um lugar de procrastinação e preguiça: gostaria de nunca ter começado a subir.
       Minha expectativa ao entrar na casa é grande: poderei descansar e contemplar quem me fez valer o esforço. Minhas angústias serão sanadas e minhas dores, curadas. Mas ao mesmo tempo, uma duvida surge: Será esse mesmo o final da minha trilha? Será que realmente encontrarei o que procuro?
        Para minha surpresa, me decepciono. Nada encontro na casa nem ninguém. E ao olhar para o céu, vejo apenas nuvens, nem mesmo um pôr-do-sol posso admirar. Eu sabia, desde o começo eu sabia de que nada valeria me esforçar tanto por uma utopia. Entro em uma crise de fé. Me prometera vitórias, e que no fim das contas, tudo cooperaria para o meu bem! Como posso confiar em um Ser que se diz Supremo, se nem suas promessas consegue cumprir? E o pior, tenho que sofrer por uma causa que nem tenho certeza se é válida!
       Após uma longa noite de insônia, finalmente caio no sono. Ali na casa vazia, somente com minha mochila do tamanho do mundo jogada no canto. Durmo um sono profundo e não sonho com nada, afinal, minha decepção me tira quase que por completo, minha esperança. Mais ainda sim, ela resiste.
      Acordo atônito. Quanto tempo passou? Ainda estou vivo? Entre a minha respiração ofegante, vejo um raio de luz que entra por uma janela que até então, não tinha visto que existia. Olho ao redor, minha mochila jaz aberta e todo o seu conteúdo está espalhado pelo chão. Minha primeira impressão é que teria sido um ladrão, ou uma criança peralta, mas logo me recordo, que estou no alto de uma grande montanha e que essa montanha, só existe em meu mundo. Sim, estou sozinho.
      Já não me lembrava das coisas que tinha guardado na mochila. Não me lembro de ter carregado tantas fotografias do meu passado! Uns livros velhos e um diskman, desses que não se vêem há anos. Musicas que me marcaram, fotos que retratam momentos inesquecíveis e é claro, literaturas que me ajudaram a ser a pessoa que sou. Entre as fotos, que vasculho com cuidado, encontro roupas de criança, brinquedos, carrinhos e bonecos, todos se foram a muito tempo, mas ainda sim, os carrego na mochila. Logo percebo que as coisas estão por toda a casa. Objetos da minha infância, presentes de amigos,  penduradas em pregos recém-colocados, encontro risadas, alegrias e festas. Num canto mais obscuro, que meu instinto me faz evitar, encontro tristezas, angústias e opressões. E a maioria delas, ainda cabem dentro do meu coração.
        Enquanto revia minha vida diante dos meus olhos, aquele raio de luz ficou um pouco mais forte. De longe o observava e imaginava que o dia estava ensolarado e bonito. Mas só imaginava. O fascínio pela minha própria vida me consumia e eu não mais conseguia desviar a atenção. Estava perdendo o dia belo que jazia lá fora.
       Aproveitava a luz do raio para ver como eu tinha me saído na vida. Até que não fui tão mal, apesar de sempre exigir de mim, mais do que eu podia fazer.Vi que afinal, tudo realmente tinha cooperado para o meu bem. Mas a tristeza ainda guardava um lugar especial no meu coração.
       Após ter revisado algumas vezes meu passado, resolvi por voltar ao presente. Fui até a janela e olhei para fora. Foi aí que vi o mais belo dia da minha vida. A paisagem de dentro da casa, nunca poderia ser comparada àquilo. Aves voando, animais pastando ao longe, árvores e mais árvores de diversas espécies enfeitando meu imenso jardim. Olhei para cima. O brilho do sol ofuscou os meus olhos, e foi então, que descobri um mistério que sempre me questionei.
         "É tudo vaidade! Que vantagem tem homem sobre todo o trabalho que realiza debaixo do sol?"
        Enquanto me preocupara com a minha própria vida, me esqueci do que havia lá fora. Minha própria vida fora a minha vaidade. Ao olhar para o feixe de luz, pude apenas ver com os olhos carnais, com a razão e, enquanto enxergava assim, não podia contemplar toda a obra da natureza, ou ao menos me apaixonar por uma poesia ou derreter por uma sinfonia. Havia perdido a noção de amar por amar demasiadamente a minha própria vida.
         Felizmente, o feixe de luz me chamou atenção e me fez olhar através dele. Pude sentir o calor do sol em meu rosto e ao olhar pela janela, admirar e compreender as obras que se fazem debaixo do sol.
        E ainda mais eu compreendi. Mesmo que o dia estivesse feio e turvo, e o tempo não estivesse ao meu favor com nuvens espessas a bloquear minha visão ao adentrar a casa, o sol sempre esteve ali. Ele sempre esteve ali. Durante todo o meu percurso, durante toda a minha vida, Ele esteve ali.
       Essa casa na montanha não é mais meu destino final. É apenas um local de aprendizado. Meu destino final está ao lado dele. Lá em cima. Onde poderei ver face a face, aquilo que outrora nessa vida experimentei apenas como um feixe de luz.

Clamor


Olhem!
Os campos abertos já estão!
Quem os ceifará?

As flores primaveris florescem
Os galhos adornados aparecem
Quem os apreciará?

O mar traz as boas novas,
Devemos celebrar!
Quem irá cantar?

A vida chama a viver
A chama do amor.
Todo sopro que o apagou,
Reascendeu o seu calor

E o eco do clamor pela humanidade
Ressoa entre os vales desse mundo:

Onde estás vós, Oh Homens?
Escutais a minha voz?

A quem enviarei?

Eleitismo



"Todos deviam perecer, exceto raros eleitos. Germes de espécie até então desconhecida introduziam-se no organismo humano. Mas tais corpúsculos eram espíritos dotados de inteligência e vontade. Os indivíduos afetados tornavam-se imediatamente desequilibrados e loucos. Contudo, coisa estranha, nunca os homens se haviam tido tamanha confiança na infalibilidade de seus juízos, de suas teorias científicas, de seus princípios morais. Aldeias, cidades, povos inteiros eram atingidos pelo mal e perdiam a razão. Estavam todos cheios de angústia e no estado de não se compreenderem uns aos outros. Cada qual julgava-se o único na posse da verdade, desolando-se ao considerar os semelhantes. Cada qual batia no peito, torcia as mãos e chorava... Não podiam entender-se sobre as sanções a adotar sobre o bem e o mal, e não sabiam a quem condenar ou absolver. Matavam-se uns aos outros numa espécie de absurdo furor. Reuniam-se e formavam imensos exércitos para marcharem uns contra os outros, porém uma vez começada a campanha, as tropas dividiam-se, rompiam-se as fileiras e os homens trucidavam-se e devoravam-se mutuamente. Nas cidades, tocavam a rebate de manhã â noite. Todos eram chamados às armas, mas por quem? Por quê? Ninguém teria podido dizê-lo e o pânico se propagava. Abandonaram-se os propósitos mais simples, pois cada qual propunha ideais e reformas sobre as quais ninguém se entendia. A agricultura estava abandonada. Formaram-se grupos aqui e ali. Os homens juravam não se separar, e um minuto após esqueciam a resolução e começavam a acusar-se mutuamente, abatendo-se e matando-se. Por toda a parte irrompiam a fome, os incêndios. Parecia tudo, homens e coisas. E o flagelo devastava cada vez mais. Só podiam ser salvos no mundo inteiro alguns homens eleitos, puros, destinados a começar nova raça humana, a renovar e a purificar a terra. Entretanto, ninguém os tinha visto nem lhes havia ouvido as palavras ou o som da voz."

Crime e Castigo,
Fiódor Dostoiévski