Em uma certa aldeia, existia um jornaleiro. Conhecido por sua humildade e fraternidade para com o próximo, o jornaleiro vivia sua vida tranquila no campo.
Também havia naquele tempo, um poderoso Imperador. O mais poderoso que jamais existira sobre a face da Terra. Ora, o jornaleiro nunca podia imaginar o que estava para acontecer em sua pacata vida, que ele considerava, humilde.
O dia chegou. Mandaram chamar o jornaleiro em sua aldeia: o Imperador queria vê-lo. "Mas o que? O Grande Imperador sequer sabe da MINHA existência? Eu? O Humilde jornaleiro sem nome???"
Eis o que o Imperador queria: Desposar sua filha. O Jornaleiro é então convidado a ser nada mais que o genro do Imperador!
"Mas que absurdo! Eu? Genro do Imperador? Só pode ser brincadeira! Ele quer me ridicularizar perante os homens! Eu nunca aceitarei isso! O que vão pensar? Lá vai o Jornaleiro que foi enganado pelo Imperador! Não, não posso aceitar! Isso é grandioso demais para mim!"
E essas indagações tiraram o seu sono durante muito tempo. Seria verdade? Mentira? E se fosse, poderia eu me elevar a tal nível? O imperador poderia se rebaixar tanto?
Seu coração se escandalizara. Sua admiração pelo Imperador, se transformou em uma espécie de inveja. Sua humildade, que de tanto se vangloriava, na verdade, era sua vaidade. Nunca teve humildade para aceitar tão grandioso pedido de tão grandioso imperador.
Voltando-se para dentro de si, sem nenhuma coisa exterior que lhe desse a certeza de que de fato, o pedido era real, apenas por fé, teria o jornaleiro coragem o suficiente para ousar acreditar no pedido? Coragem sem humildade de nada vale, não faz crer). E essa coragem, quantos jornaleiros a teriam? Mas aquele que não a tem, escandaliza-se. Essa coisa grandiosa teria o mesmo efeito que uma grande zombaria pessoal. Vira-se para si próprio e fala: "São coisas demasiado altas para mim e que não me podem entrar na cabeça; sem rodeios, isso é loucura!"
Eis o Evangelho. E a lição que nos ensina, é que esse homem-jornaleiro está agora, perante Deus. E Este o convida a aceitar sua proposta. Terá esse homem, essa coragem revestida de humildade? Na verdade, se há no mundo coisa para enlouquecer, não será esta? Quem quer não o ousa crer, por falta de humilde coragem, escandaliza-se. Mas se se escandaliza, é porque a coisa é demasiado elevada para ele, porque não lhe pode entrar na cabeça, por isso, tem necessidade de pô-la de parte, considerá-la nada, uma loucura, uma ingenuidade, a ponto de se sentir sufocado. É constrangido pelo amor.
O que é o escândalo? A admiração infeliz, perante pois da inveja, mas uma inveja que se revolta contra si próprio, mais ainda: que se encarniça mais contra ela própria do que contra outrem. Em sua estreiteza de coração, o homem é incapaz de se conceder o extraordinário que Deus lhe destinava: por isso se escandaliza.
Esse escândalo varia segundo a paixão que o homem põe na admiração. Sem muita imaginação, o homem não tem aptidão para admirar, de modo que se limita a dizer: "Não entendo, deixo pra lá". Esses são os céticos. Mas se o homem é imaginativo, consegue admirar, e por isso, sente-se constrangido a ponto de o negar, extirpá-lo e condená-lo à lama.
A relação de homem para homem se dá como admiração-inveja, ao passo que, de homem para Deus, temos a adoração-escândalo. Advogar a loucura do Evangelho é a maior estupidez que um homem pode fazer: pois esse tipo de ralação judicial, faz desacreditar o próprio evangelho. Sendo assim, os grandes apologistas e defensores da fé, não são nada mais, do que Judas, traindo a obra de Cristo com o beijo da estupidez. A Fé não precisa de defesa, ela é o ataque: um verdadeiro crente é um vencedor, sempre. Amenizar o escândalo através de explanações teológicas é reduzir o evangelho. Assim, criamos o cristianismo.
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